Temos em breve mais uma data que achamos importante fazer uma reflexão: 20 de fevereiro que é o Dia Mundial da Justiça Social.
E sobre o que estamos falando quando pensamos em justiça social?
Tem muitos aspectos envolvidos, mas podemos citar como exemplos o fim da pobreza, da exclusão, do preconceito, do desemprego, entre tantas outras situações que promovem o desenvolvimento.
Pensando em um plano, é basicamente tudo o que está previsto nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Dos 17 objetivos, o 5º diz respeito especificamente à igualdade de gênero, com metas a serem alcançadas até 2030.
São elas:
– Acabar com todas as formas de discriminação contra as mulheres e meninas
– Eliminar todas as formas de violência contra as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e exploração sexual, além de outros tipos
– Eliminar todas as práticas nocivas, como os casamentos prematuros, forçados e mutilações genitais femininas
– Reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e doméstico não remunerado, por meio da disponibilização de serviços públicos, infraestrutura e políticas de proteção social, bem como a promoção da responsabilidade compartilhada dentro do lar e da família, conforme os contextos nacionais
– Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública
– Assegurar o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos
– Realizar reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, serviços financeiros, herança e os recursos naturais, de acordo com as leis nacionais
– Aumentar o uso de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento das mulheres
– Adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis
Muito bem, todas essas metas são importantes e pertinentes, mas quando pensamos em justiça não é impactante pensar em todas as discrepâncias que temos por aí?
Vivemos em um mundo onde temos mulheres que são CEOs de empresas ou estão em outros cargos de liderança importantíssimos e outras que ainda são submetidas a práticas abomináveis como a do casamento forçado e a mutilação genital.
Isso nos leva ao questionamento: em um mundo tão desigual existe justiça?
Existem várias definições para o que é justiça, passando por retribuição/compensação por algo que foi feito, dar a cada um o que lhe é devido, e até a justiça como igualdade, sobre o tratamento igualitário das pessoas, que em sua origem na democracia grega dizia respeito a algumas pessoas e não a todas.
Hoje sabemos bem que igualdade para uns e não para outros não é justo certo?
O próprio símbolo da justiça é uma mulher vendada, uma referência à deusa romana Justiça, que por sua vez corresponde à deusa grega Dice. E ela está vendada com o propósito de mostrar imparcialidade, mas por muitos anos a sociedade fechou os olhos para as injustiças pelas quais passavam as mulheres.
Tivemos uma longa jornada até conseguir coisas básicas como podemos ver aqui nessa linha do tempo:
Hoje ainda precisamos trabalhar para equacionar os impactos de tantos anos de injustiças que acometeram e ainda acometem mulheres ao redor do mundo de formas diferentes.
E mesmo em sociedades que estão em desenvolvimento ou avançando em suas políticas públicas em prol da igualdade, a sombra de conceitos retrógrados do passado ainda se faz presente sobre nós.
Não temos uma sociedade justa enquanto:
– Mulheres deixam de fazer algo por medo do que os outros vão pensar. Isso pode ocorrer em diversas situações, desde expor sua opinião em uma reunião de trabalho a transar no primeiro encontro. Não devemos qualificar mulheres em relação às suas atitudes ou comportamentos.
– Mulheres recebem menos por um trabalho do que homens com a mesma qualificação. No mundo, a brecha salarial de gênero é de 16% segundo a ONU, o que significa que as mulheres que trabalham ganham cerca de 84% do que ganham os homens. Essa diferença pode ser maior ou menor em alguns países.
– Aceitamos que a parte mais pesada do trabalho doméstico e de cuidado recaia sobre a mulher
E sobre o trabalho de cuidado, destacamos alguns dados:
De acordo com a Oxfam, mulheres fazem 75% de todo o trabalho de cuidado não remunerado do mundo. Globalmente, meninas e mulheres dedicam 12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado, o que representaria pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano à economia. Para se ter ideia isso é mais de três vezes o valor da indústria de tecnologia do mundo.
Também temos a informação que 42% das mulheres em idade ativa estão fora do mercado de trabalho, enquanto isso ocorre com apenas 6% dos homens, algo que se atribui às responsabilidades do trabalho não remunerado de cuidado.