Você não tem só sentimentos bons

Nos permitir sentir faz parte da experiência humana

Já vou começar com uma frase de impacto para chamar a sua atenção:

 

Quando citamos luz e sombra, naturalmente estamos falando de uma contraposição, daquilo que é bom, certo, que está explícito com aquilo que é ruim, duvidoso, não recomendado.

E todas nós temos características que podem ser entendidas como luz e como sombra.

Temos qualidades e defeitos. Sabemos que as pessoas são complexas e não podemos dividi-las simplesmente em boas ou ruins. Mocinhos e bandidos, heroínas e megeras, esse tipo de personagem simples que emana apenas uma característica dominante é coisa de contos de fadas, de novelas antigas.

Salvo algumas exceções, todos temos coisas boas e ruins.

E hoje queria falar de um sentimento em particular: a inveja.

 

“Estou aqui, você não” – Unsplash/Artem Beliaikin

É reprovável sentir inveja? Sim.

Existe alguém que nunca sentiu inveja? Difícil…

É possível sentir inveja e ser uma pessoa boa? Sim!

Dá para aceitar que sentimos inveja e trabalhar esse sentimento? Sim, e é isso que todas nós deveríamos estar fazendo.

Quem fala que nunca sentiu inveja de alguma coisa tem um pezinho na hipocrisia. Nós temos desejos e nem sempre podemos realizá-los. Querer algo e não ter, ou não poder ter, causa uma angústia, um mal-estar em algum nível.

Muitas coisas na vida nós podemos dedicar nosso tempo e esforços para conquistar, mas a verdade é que isso não se aplica a tudo.

O que não significa que vamos sofrer para sempre com um vazio que jamais será preenchido. Até porque nossas vontades e desejos são bastante voláteis e mudam de acordo com o momento de vida que estamos, com novas experiências adquiridas ou simplesmente porque nós mesmas mudamos. É normal mudar lembra? Já falamos sobre isso.

Mas se em algum momento, a gente sentiu uma invejinha da grama mais verde do vizinho (seja lá o que for essa grama para você), não tem problema.

Sentir inveja é algo completamente compreensível.

 

Há quem goste de despertar inveja, que se sente importante porque outras pessoas querem copiá-la. Tem gente que tem medo de inveja. Que prefere não expor muito a própria vida, as conquistas ou os planos porque acha que vai atrair uma energia negativa que vai destruir o que ela tem.

Se existisse esse poder de mudar a realidade apenas com o que sentimos, imagina que loucura a vida seria! Isso não acontece Freefree, mas os nossos sentimentos, mesmo os ruins têm sim um grande poder, que é o de transformar quem a gente é.

Entender que sentimos coisas ruins e que isso está perfeitamente dentro da experiência humana é a oportunidade ideal para fazermos uma autoavaliação e virar uma chavinha interna, para nos sentirmos bem.

Porque ninguém gosta de sentir coisas ruins. Queremos felicidade, diversão, leveza. Mas quando esses sentimentos ruins acontecem, tudo bem também. Negar o que sentimos é que não ajuda em nada.

Acaba sendo muito mais fácil encontrar amigos no fracasso do que no sucesso. Afinal ninguém tem inveja do fracasso né? Podemos sofrer com ele, aprender, nos reerguer e até rir dele. Mas ninguém deseja o fracasso alheio.

O que nos impede de sentir uma verdadeira felicidade em relação ao sucesso e conquistas dos outros?

Talvez nosso ego que constantemente chama a atenção para os nossos próprios problemas e dores, que faz com que a gente se compare, que a gente julgue, que a gente procure defeitos em alguém que parece estar vivendo a vida perfeita, afinal não é justo alguém ser premiado com o pacote plenitude completa né? Algum perrengue deveria ter!

A gente não devia querer achar defeito ou diminuir as conquistas dos outros para nos sentirmos melhor em relação a nós mesmas.

 

“sim…eu estava com inveja”

Ainda mais nesse momento que vivemos, da vida atrás das telas, onde parece não importar tanto o que de fato está acontecendo, mas sim aquilo que pode ser ostentado, que vai gerar curtidas, que vai fazer os outros acharem que tá tudo lindo e legal. Aquilo que vai gerar inveja…

 

Aí é que precisamos nos perguntar se estamos vivendo por nós, para criar conexões, para ter experiências significativas, ou se estamos criando imagens, vídeos e conteúdo que fazem com que aquele avatar que usamos nas redes sociais pareça estar pleno e feliz.

 


Admitir que temos medo, que sentimos inveja, que não somos só gratidão, é na verdade uma grande demonstração de força.

Porque assim não estamos fugimos daquilo que nos causa dor, mesmo que essa dor seja causada por nossos próprios sentimentos. Olhar para o que nos incomoda, que nos falta, é uma forma de colocar luz na sombra. Só podemos ressignificar nossos sentimentos ruins admitindo que eles estão lá, não negando que eles existam

E assim como a frase de abertura, queria encerrar essa newsletter com outra frase de luz e sombra, da pesquisadora e professora da Universidade de Houston Brené Brown que tem um dos TED Talks mais assistidos de todos:

 

Suas palestras fazem tanto sucesso justamente por falar sobre abraçar nossas vulnerabilidades e aceitar nossas imperfeições. Outra frase muito boa da professora é uma que diz algo mais ou menos assim: você, eu, nossos filhos, ninguém nasceu para ser perfeito. Somos imperfeitos, feitos para lutar e merecedores de amor e pertencimento.

Mais tempo sentindo coisas boas e a força para transformar seus sentimentos ruins é o que desejo para você (sinceramente, mesmo que a gente não se conheça)!

Um grande beijo!