Sobre aceitar, cuidar e curar

Quanto tempo perdemos encanadas com coisas que só incomodam a gente?

Na semana passada tivemos o nosso maravilhoso Festival Free Free + Bayer. Foi incrível poder reunir tantas mulheres incríveis e conversar sobre temas tão importantes. Falamos sobre saúde, sexo, prazer, masturbação, contracepção, menstruação, direito sobre nossos corpos e claro, liberdade.

Em breve (quem sabe ano que vem, dedos cruzados ) esperamos voltar a fazer nosso festival de forma presencial para vivermos juntas esse momento lindo!

Se a gente fosse resumir tudo o que falamos no festival, podemos encontrar um fator comum: nosso corpo.

Unsplash/Womanizer Toys

É o nosso corpo que vive ciclos, que nos dá prazer, que pode gerar um vida…

É também o nosso corpo que faz os outros nos julgarem, é com ele que esperam que a gente cumpra um papel biológico independente da nossa vontade e é ele que nos faz sentir sentimentos controversos de amor e ódio.

Espero de verdade que você tenha uma boa relação com seu corpo.

Mesmo que não tenha sido sempre assim, espero que agora você já tenha aprendido a se amar.

Se amar de verdade, não apenas para parecer livre e empoderada, mas sentir que é. Mesmo quando ninguém está olhando. Mesmo quando estiver só você.

Carregamos uma carga ancestral sobre nossos corpos, separadas entre atraentes e não atraentes, sensuais ou recatadas, vaidosas ou desleixadas, como se a nossa imagem dissesse respeito ou tivesse que agradar qualquer pessoa além de nós mesmas.

Somos mais livres hoje do que no passado, mas é difícil encontrar uma mulher que nunca quis mudar nada em seu corpo. Uma pesquisa do Instituto Sophia Mind, aponta que 54% das mulheres brasileiras estão insatisfeitas com alguma parte de seus corpos.

Outro levantamento global aponta que seis em cada dez meninas já evitaram praticar uma atividade devido à sua aparência. E mais assustador ainda é um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que diz que 82% das crianças entre 8 e 10 anos desejam uma silhueta diferente da sua.

Como assim gente?

Quanto tempo ficamos diante de um espelho reparando se nossos peitos são assimétricos, se a celulite está muito evidente, apertando os olhos para ver se aquela ruguinha some? Quanto tempo perdemos encanadas com coisas que na verdade só incomodam a gente e não os outros?

Hoje podemos assumir tudo aquilo que faz a gente ser quem é. Sem vergonha. Mas não podemos dizer que o padrão estético esteja superado.

Estamos desconstruindo aos poucos, educando o nosso olhar para ver que beleza não é um único ideal, mas um universo de possibilidades.

E já que estamos falando sobre aceitar e amar nossos corpos, não poderia deixar de citar uma reflexão muito importante desse mês: o outubro rosa e a importância da prevenção.

Achamos importante trazer esse assunto todos os anos, apesar do cuidado com a nossa saúde ser algo que precisamos dar atenção constante.

Vamos abordar esse tema ao longo do mês, mas o destaque é para o fato que ter câncer de mama não é sua culpa. São muitos os fatores que podem ou não culminar no desenvolvimento de uma doença. Mas várias pacientes oncológicas relatam essa angústia e se perguntam “por que meu corpo falhou comigo?”.

Ainda mais no caso do câncer de mama que afeta a nossa aparência e sexualidade. Outras questões permeiam o diagnóstico, inclusive a violência doméstica que pode ter efeitos prejudiciais para a descoberta do câncer e o tratamento.

Sem contar que frequentemente as vítimas de violência, física ou psicológica, acabam tendo hábitos menos saudáveis e estão mais sujeitas a fatores de risco como depressão, consumo de álcool, tabaco e drogas, alteração do padrão do sono, entre outros.

Mas o importante é que 95% dos casos, quando descobertos cedo, têm boas chances de cura.

Todas aquelas pequenas coisas que implicávamos na nossa aparência se tornam completamente irrelevantes quando algo sério, como o câncer, acontece com a gente.

E não se trata de comparar dores, mas sim de se amar em todas as circunstâncias.

 

Você não é um diagnóstico, mas deve se sentir confortável em qualquer situação.

Se amar, na saúde e na doença. O único casamento que você realmente precisa ter.

Então se ame, se aceite e se cuide.

 

Unsplash/Gabriel Aguirre