Não somos rivais

Precisamos falar da rivalidade feminina (e eliminá-la da nossa vida de uma vez por todas)

Pronta para mais uma das nossas conversas semanais?

Mais um bate-papo de ❤ sobre um assunto diretamente ligado à nossa liberdade.

Porque para sermos livres precisamos desconstruir tudo aquilo que nos prende, que faz com que a gente queira se encaixar ao invés de se destacar.

E hoje queria falar com você sobre um dos aspectos mais prejudiciais da insegurança: a comparação.

Em algum momento foi incutido na nossa cabeça que a “grama do vizinho sempre é mais verde”. Temos um olhar focado em supervalorizar as qualidades dos outros e deixar passar despercebidas as nossas próprias características positivas. E nesse contexto das redes sociais que mostram recortes bonitos da realidade acabamos comparando a nossa vida com a aparente vida perfeita dos outros. Até por isso o Instagram foi considerado a rede social mais prejudicial à saúde emocional.

Se comparar é um desdobramento da competição que não deveria existir e o resultado é nos sentirmos rebaixadas, inferiores, insuficientes. Um monte de sentimentos que não fazem o menor sentido.

Mesmo quando sabemos que é errado, e reconhecer é o primeiro passo da desconstrução, em algum momento já sentimos a necessidade de querer ser a mais bonita, a mais divertida, a mais interessante, a mais inteligente. Por que isso? Por que essa competição?

E quando reconhecemos as qualidades de outra mulher, muitas vezes já procuramos um defeito, uma espécie de compensação cármica por ela ter algo bom. “Ela é bonita, mas é chata”, “ela é bem-sucedida, mas deve ser uma péssima mãe”.

Pois é, precisamos falar da rivalidade feminina (e eliminá-la da nossa vida de uma vez por todas).

 

Há quem diga que a rivalidade entre as mulheres seja uma questão evolutiva. Já outras linhas enxergam isso como uma forma de internalizar o patriarcado. Ou ainda, de que se trata de uma competição com nós mesmas porque ao sentir “inveja” de determinadas características em outra mulher, não estamos sequer enxergando aquela mulher ou a considerando como uma pessoa. Estamos apenas olhando para nós e o que queríamos ter.

Não ajuda o fato de que por muitos anos vivemos numa ditadura do padrão que era desejado. Ditadura porque erámos bombardeadas sobre como é a aparência perfeita, o que era ter sucesso, como é a vida que deveríamos almejar.

Em relação à aparência, submetemos nossos corpinhos saudáveis a verdadeiras torturas para agradarmos a outros, caso da prática dos “pés de lótus” na China para conseguir um bom casamento.

Existe essa obsessão em ser bela e jovem, como se fosse tudo na vida. E o pior é que muitas vezes isso não é nem para nos satisfazer, mas sim aos outros.

Não é possível falar em sucesso como se existisse uma régua para medi-lo.

Somos pessoas diferentes e o conceito sobre o que é sucesso vai variar para cada uma de nós. E de que adianta ter aquela vida perfeita, alcançar todos os objetivos da checklist do que é considerado sucesso e mesmo assim não nos sentirmos felizes? Ainda, é válido questionar essa necessidade de uma busca incessante pela felicidade. Por que nós humanos somos obcecados com essa ideia de ser feliz o tempo todo enquanto todos os demais seres existentes nesse planeta parecem se contentar apenas em ser?

Não querida leitora, não quero te causar uma crise existencial.

Mas posso te garantir que uma vida com menos comparação é uma vida mais feliz.

 

@mari.vidailustrada

Quanto antes percebemos que a felicidade está dentro de nós e não em outra pessoa, não em um determinado emprego, não em objetos, não na aparência, tudo fica mais leve.

Mas não é fácil sentir isso espontaneamente. Seria maravilhoso se pudéssemos virar uma chavinha interna para parar de nos importar com as coisas que incomodam em nós mesmas ou que gostaríamos de ter.

Não à toa que quando somos mais maduras e menos suscetíveis a nos abalar com coisas materiais ou de aparência que somos mais livres. E podemos começar com esse processo de emancipação hoje mesmo.

Unsplash/Alexandra Tran

E aqui voltamos à questão da rivalidade feminina. A psicóloga e professora doutora Valeska Zanello fala sobre o conceito da “prateleira do amor” que é quando tentamos nos encaixar ou quando queremos atender um padrão para ser desejadas e ter sucesso. E é a nossa posição nessa prateleira que define se somos preferidas ou preteridas. “Ser escolhida é sempre um valor relacional, ou seja, produzido na comparação com outras mulheres disponíveis também nessa prateleira simbólica”, afirma a doutora.

O oposto da rivalidade feminina é a sororidade.

E é nisso que devemos nos apegar, na ideia de que todas podemos brilhar, de que o sucesso de outras não significa a nossa derrota, de que a sua beleza não diminui a minha. De que não há fórmula do sucesso para ser seguida e que ao invés de nos comparar, precisamos olhar para dentro, para o que realmente desejamos e que vai nos fazer felizes, mesmo quando ninguém estiver olhando.

E quer satisfação melhor do que ser uma mulher que levanta outras?

 

Não enxergue outras mulheres como rivais, como ameaça. Não critique ou julgue outras mulheres por sua aparência, não duvide ou culpe outra mulher que pode ser vítima de assédio ou violência sexual.

Juntas somos mais fortes e a vida não é uma corrida que precisamos vencer para estar num pódio de categorias “a mais bonita”, “a mais bem sucedida”. A vida é sobre se relacionar de forma significativa com as pessoas, permitir se emocionar, tocar os outros com aquilo que passamos de bom.  A vida deve ser um passeio agradável.

Faça sua caminhada de forma leve, sem comparação e sem rivalidade.

 

Unsplash/Hannah Busing