Mudei. E agora?

Há uma grande beleza em poder se redescobrir uma, duas, cinquenta vezes ao longo da nossa vida

Você está se sentindo como você mesma?

Existe um verdadeiro universo de fatores que fazem a gente ser quem é.

Nossos gostos e preferências, nossas vivências, nossos valores, a influência das pessoas que estão ou que passaram pela nossa vida e até as coisas que não gostamos. Tudo isso contribui em alguma proporção para sermos quem somos.

Quanto mais definida estiver a nossa essência para nós mesmas, mais fácil é encontrar pessoas que pensam da mesma forma e sentir que a gente pertence a um grupo. Nenhuma pessoa é uma ilha que fica bem isolada. Criar conexões e laços com outras pessoas, até com quem é diferente de nós, é uma experiência muito enriquecedora.

Para além de todas as outras coisas terríveis que essa pandemia nos trouxe, uma delas foi nos confrontar sobre quem a gente é quando nossas interações sociais deixam de existir ou diminuem drasticamente.

Todo mundo teve que abrir mão de seu modo de vida e se adaptar. Passamos a trabalhar em casa, deixamos de sair com nossos amigos, de ir em festas, em exposições, ao cinema. Tudo para tentar conter a propagação do vírus.

Passamos a trabalhar remotamente, a assistir aulas e até as festas com os amigos tiveram que ser através das telas dos nossos celulares e computadores.

Crédito: Unsplash/Evgeni Tcherkasski

E ao ficar em casa, nos deparamos com uma grande quantidade de tempo para estarmos com nós mesmas e refletir. Mesmo nos casos de quem mora com a família. Antes existiam momentos que eram só nossos, quando estávamos fora de casa, e tivemos que pensar em como ter isso estando com outras pessoas.

Não dá para resumir a nossa existência de apenas uma forma, afinal, como já disse no começo, são muitos os elementos que nos definem.

Só o nosso trabalho não nos define.

Nem os nossos relacionamentos.

Mas em ambos os casos, quando vivemos uma ruptura, parece que uma parte de nós deixa de existir. Sentimos um vazio. Isso vale para quando somos mandadas embora de um emprego, ou mesmo quando somos nós que pedimos demissão. Ou quando terminamos um relacionamento amoroso, mesmo sabendo que ele não estava bom.

Por mais que essas coisas não nos definam, elas faziam parte do nosso dia a dia. E sempre existe alguma dificuldade em encerrar um ciclo para começar um novo.

E são nesses momentos que nos deparamos com o mesmo pensamento que de certa a forma a pandemia nos impôs: quem eu era antes disso tudo?

 

Unsplash/Vladyslav Tobolenko

Com o fim da pandemia (e acredite, vai acabar <3) vamos ter que redescobrir um pouco sobre quem somos e o que nos deixa confortáveis. Precisamos normalizar a ideia de que nós mudamos. E que isso não significa algo ruim. Na verdade há uma grande beleza em poder se redescobrir uma, duas, cinquenta vezes ao longo da nossa vida.

Se pensarmos bem, todo dia somos uma nova versão de nós mesmas. Cabe a nós a curiosidade de nos permitir vivenciar novas experiências, de fazer o que temos vontade, de encarar medos.

Voltar à vida normal é uma questão que está incomodando muito algumas pessoas, enquanto outras nunca se importaram, nem durante os momentos de maior comoção, com milhares de vidas perdidas diariamente. Já falamos aqui sobre a síndrome da gaiola, quando preferimos o conforto e segurança do que está sob nosso controle.

 

É difícil pensar que viver assim para sempre pode ser um sinônimo de felicidade. Em algum momento vamos precisar alçar voos mais altos e nos jogar no mundo. Você pode ser uma pessoa caseira e curtir seu cantinho, mas é isso que você deseja para todos os dias até o fim da sua vida?

Se a resposta for sim, é possível viver dessa forma com home office, ensino à distância e delivery de praticamente tudo que se possa imaginar. Mas aposto que deve existir alguma experiência que você quer viver ou lugar que deseja conhecer nesse mundão.

Se você está passando por ansiedade só de pensar na hora de voltar a sair, temos algumas dicas para ajudar:

– Não deixe o medo no controle. No começo pode ser mais difícil, mas uma hora precisamos enfrentar o que nos impede de agir.

– Baby steps. Comece aos pouquinhos. Na primeira vez talvez seja bom se encontrar apenas com uma pessoa de confiança, tomando todos os cuidados e em um lugar que seja igualmente cuidadoso.

– Se sentir algum desconforto, não tem problema nenhum ir embora. Não adianta sair para se sentir bem e não ficar à vontade.

– Se o desconforto continuar e você não sentir que ele está diminuindo, talvez seja recomendado conversar com um profissional. Terapia sempre é uma grande ajuda para nos tranquilizar e aliviar nossas angústias.

 

 

Vivemos algo extremamente atípico e tudo bem ter alguma dificuldade em pensar como e se a vida que tínhamos antes vai voltar. Talvez não seja mais a mesma coisa, tudo mudou. Você, nesse mais de um ano, também mudou. Mas se tem algo que nós podemos fazer sempre é ressignificar nossos traumas, nossas dores, independentemente do tamanho, e construir a vida que queremos.

Você tem o potencial para vencer qualquer dificuldade, merece viver momentos bons e ter sucesso em qualquer empreitada que quiser iniciar. Acredite em você. Eu acredito.