Aprendendo a impor limites sem culpa

Diga mais “nãos” e seja mais livre.

Escutamos muito sobre a importância de ser resiliente, de se adaptar e de tantas outras características ligadas à inteligência emocional no que diz respeito a sermos tolerantes e abertas, mas não ouvimos tanto sobre saber impor limites.

E isso é fundamental.

Claro que existem situações óbvias onde é fácil perceber que algo passou do limite.

Quando falamos em consentimento, em respeito aos nossos corpos, aos nossos direitos sempre vale reforçar que não é não e ponto final. Mas no dia a dia não é incomum aceitarmos situações que não queríamos estar simplesmente por medo ou vergonha de manifestar o que realmente pensamos.

Existe uma vontade de não querer desagradar os outros, mas isso pode nos colocar em circunstâncias ou mesmo em relações que não são saudáveis para nós. E quando estamos envolvidas afetivamente com alguém fica mais complicado buscar o equilíbrio entre a razão e a emoção. Por isso vemos tantos relacionamentos abusivos, que não começam imediatamente com a imposição de um lado sobre o outro, mas com o rompimento de barreiras um pouquinho a cada dia. Quando percebemos estamos numa posição ruim e nem sabemos como fomos parar lá.

A relação com limites começa na infância e faz parte da educação, para que sejam estabelecidas as regras de convivência e de respeito ao espaço do outro.

Se você é mãe, professora, conviveu com irmãos, sobrinhos ou crianças pequenas de forma geral, qual é a palavra que você imagina ser a mais frequentemente usada? Certamente “não!” passou pela sua cabeça.

Mas para além desse início da nossa formação como seres humanos, na vida vamos nos deparar diveeeeersas vezes com momentos em que nossos limites serão testados.

E saiba que “não” é uma frase completa. Não tenha medo de usá-la em qualquer uma das suas relações.

 

 

Diga sim a dizer não

 

Porque quando aceitamos fazer algo que não queremos para agradar os outros o resultado é que ou vamos ficar ressentidas ou vamos nos iludir achando que seremos valorizadas por aceitar aquela tarefa que não queríamos. Valorização essa que talvez, muito provavelmente, nunca venha. Por isso é tão importante responder sim ou não estando plenamente confortável na situação.

 

 

Saber impor limites também tem muito a ver com autoestima. Se defendemos que todas as pessoas merecem respeito, é evidente que isso também inclui a gente. Mas frequentemente nos sentimos insuficientes ou que não temos aquela “moral” para contrariar alguém.

E é possível dar uma resposta negativa e ser gentil ao mesmo tempo. Por mais que passe na nossa cabeça “que pessoa sem noção em pedir isso”, comunicar o que pensamos sem atacar ou ofender também é uma forma de educar.

 

A terapeuta PhD Julie de Azevedo Hanks, autora do livro “The Burnout Cure: An Emotional Survival Guide for Overwhelmed Women” faz uma boa analogia sobre como lidar com as nossas emoções. Ela cita aquela explicação que comissários de bordo apresentavam antes de um voo (que hoje em dia geralmente é exibido em vídeo): primeiro coloque a sua máscara de oxigênio e depois auxilie quem precisa de ajuda. 

Isso se aplica perfeitamente em como devemos lidar com os nossos sentimentos, porque se não prestarmos atenção às nossas necessidades é impossível atender as dos outros.

A Dr. Julie de Azevedo Hanks também é responsável por uma pesquisa que diz que 57% das mulheres se comprometem com mais tarefas do que conseguem administrar e 74% têm dificuldades em dizer não quando pedem a elas algo que não querem fazer.

 

Mais uma vez retornamos ao mito da mulher perfeita que quer dar conta de tudo, mesmo passando por cima do seu próprio bem-estar.

Não podemos agir nos extremos, sendo a pessoa que se torna submissa ou passiva, nem a pessoa fechada em seus princípios que não tenta sequer escutar as necessidades dos outros ou ajudar quando pode.

A dinâmica equilibrada está justamente em encontrar o ponto de conforto para todos os envolvidos. É possível sim mudar nossos limites, transpor barreiras, desde que isso seja feito de forma consciente. Se aceitamos algo e não nos sentimos bem com isso, claramente não estamos respeitando os nossos limites.

“Ame a si mesma o suficiente para estabelecer limites. Seu tempo e energia são preciosos. Você pode escolher como usá-los. Você ensina as pessoas como tratá-la quando decide o que vai aceitar ou não.”

 

E agora vamos àquele momento “é sobre isso e tá tudo bem”:

– Não tente abraçar o mundo. Ninguém deve. E isso não te torna menos competente

– Não é seu trabalho aceitar responsabilidades que não são suas

– Você não precisa (e não vai) agradar todo mundo o tempo todo

– Amar alguém não significa aceitar tudo que essa pessoa pede ou faz

– Seus sentimentos importam

– Você é suficiente

Respeite os seus sentimentos, o seu tempo, o seu trabalho, o seu conforto. Não temos controle sobre tudo que acontece na nossa vida, mas somos sim as responsáveis por determinar o que achamos correto ou não fazer.

Diga mais “nãos” e seja mais livre.

 

Crédito: Unsplash/Isaiah Rustad


Para saber mais:

5 maneiras de estabelecer limites com pessoas difíceis (em inglês/ PsychCentral)