Sabe, nossa vida é composta por um infinidade de fatores determinantes para a nossa felicidade. Desde o acesso aos recursos básicos para o nosso bem-estar até a qualidade das nossas relações.
E a possibilidade de se relacionar com outras pessoas é de longe o que mais nos impulsiona. Não há nada melhor do que criar laços com alguém, compartilhar momentos, viver marcos que serão para sempre lembranças em nossa mente.
Ao longo dos anos criamos esses vínculos com pessoas que vão passar pela nossa vida. Assim são as amizades e os relacionamentos amorosos. Mas geralmente nossa primeira relação profunda com outros seres humanos acontece dentro de casa, com a nossa família.
Por família entenda todos os formatos.
Sabemos que nem toda relação familiar é fácil. O lugar que deveria ser o nosso porto seguro, um refúgio das dificuldades do mundo, uma estrutura onde só há amor e acolhimento, nem sempre é assim. E são nesses casos que costumamos criar a nossa própria família, não necessariamente composta por parentes.
Como ontem foi o Dia dos Pais, o assunto que queria trazer hoje é a verdadeira revolução que essa figura passou ao longo dos anos e o que gostaríamos de ver no futuro.
Todo mundo têm um pai. Nossa existência foi possível porque em algum momento ocorreu a combinação de gametas que resultou em você, um ser lindo, complexo que carrega em si todo o potencial de criar e transformar o mundo ao seu redor.
Mas não vamos falar de biologia. Porque vivemos em um país onde 5,5 milhões de crianças não têm o nome do pai na certidão de nascimento. Em 2020, 6% das crianças que nasceram no Brasil, o que equivale a 80,9 mil bebês, se encaixam nesse quadro segundo dados da Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional). Para ser pai, apenas ter uma relação sexual que gerou uma criança não é suficiente.
Ser pai, mãe ou “pãe” vai muito além.
Tornar-se pai ou mãe é algo que pode ser uma escolha consciente ou o resultado de circunstâncias. Mas o quanto nos empenhamos nesse papel isso sim é (ou deveria ser) totalmente consciente.
Num passado não tão distante existiam papéis bem definidos dentro de uma estrutura familiar tradicional. O pai deveria ser o provedor de recursos materiais e a mãe seria a responsável pelas tarefas de cuidado e “do lar”. Para muitas famílias isso ditou a profundidade das relações dentro de casa.
Não podemos generalizar dizendo que só as mães sempre souberam tudo sobre os medos e sonhos das crianças, enquanto os pais tinham apenas consciência de que existiam pequenas pessoas andando pela casa. Sempre existiram pais que desempenharam bem o seu papel, mesmo quando o padrão vigente era delegar todo o cuidado às mulheres.
Foi só em 1962, com o Estatuto da Mulher Casada, que as mulheres puderam ser economicamente ativas sem autorização do marido, além de ter direito sobre os seus filhos podendo requisitar a guarda em caso de separação.
Vivemos um momento muito diferente hoje.
Sabemos que relações amorosas nem sempre duram para sempre. E que ninguém deve ficar em um relacionamento infeliz. Sabemos também que ter um filho não pode ser o único motivo para manter um casamento e que é possível exercer a maternidade e a paternidade sem fazer parte de um casal.
A vida familiar é uma parte de nós, não o todo.
Hoje, homens e mulheres podem se dedicar a uma carreira e também à vida familiar.
Se o amor pode ser infinito e incondicional, o tempo não. Ele é inclusive bastante limitado para a quantidade de coisas que precisamos ou gostaríamos de fazer em um só dia.
Para que a fórmula vida pessoal/vida profissional funcione da maneira mais equilibrada dentro da estrutura familiar, compartilhar é necessário.
Compartilhar tarefas e cuidados é o justo para que a responsabilidade familiar não seja mais de uma pessoa do que da outra.
Ainda vivemos sequelas de uma estrutura patriarcal onde mulheres:
– ficam sobrecarregadas ao trabalhar fora sendo também as responsáveis pelos cuidados de casa (dedicando o dobro de horas que os homens dedicam a esses serviços)
– são prejudicadas no mercado de trabalho por serem mães ou simplesmente pelo fato de estarem na idade em que se espera que uma mulher engravide
– colocam seu emprego em segundo plano para levar o filho ao médico ou participar de uma reunião na escola
Mas também vemos um movimento cada vez maior de pais que querem exercer sua paternidade de forma plena.