A educação transforma e liberta

Criar e compartilhar o conhecimento é o que impulsiona a humanidade

Qualquer tipo de evolução passa inevitavelmente por um processo básico: a educação.

Criar e compartilhar o conhecimento é o que impulsiona a humanidade, é o que possibilitou a cura de doenças, que permitiu termos na palma das nossas mãos um aparelho com acesso a conteúdo de todas as partes do mundo, e o que faz com que a cada dia a gente construa um mundo um pouco mais justo.

Mas se é através da educação que vamos alcançar a igualdade, o caminho até aqui se mostrou bastante desigual.

Na semana passada, no dia 11 de agosto, foi celebrado o Dia do Estudante. Essa data foi escolhida por causa da criação dos primeiros cursos de ensino superior no país em 1827, por Dom Pedro I. Ensino esse que só poderia ser acessado por homens. Foi só em 1879 que o governo imperial permitiu, de forma condicional, a entrada de mulheres nas faculdades. Quem era solteira deveria apresentar uma licença de seus pais para poder estudar, já as casadas, o consentimento por escrito dos maridos.

 

 

Hoje a realidade é bem diferente, sendo que as mulheres são maioria nas universidades brasileiras, com 34% mais probabilidade de se formar no ensino superior do que os homens segundo um relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O mesmo estudo aponta que a empregabilidade de mulheres brasileiras de 25 a 34 anos com ensino superior é de 82%, cai para 63% entre mulheres com ensino técnico e para 45% entre as mulheres sem nenhuma formação superior. Entre os homens, todos os índices são mais altos, com uma taxa de empregabilidade dos que têm ensino superior de 89%, de 76% para os que têm ensino técnico e 76% para os que não tem formação superior.

Seria lógico que as pessoas com um currículo mais avançado tivessem maior receptividade no mercado de trabalho, mas as mulheres ainda têm mais dificuldades de serem empregadas por causa do desequilíbrio nas responsabilidades familiares e disponibilidade de horas para o trabalho.

E mais estranho pensar nisso quando uma em cada três empresas no mundo pertence a uma mulher (Banco Mundial).

É justamente através da análise da educação, renda e saúde de um país que se mede o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), sendo que o Brasil encontra-se hoje na 84ª posição entre 189 países.

Considerando que metade da população do nosso país é composta por mulheres, as questões de educação e renda femininas estão diretamente ligadas ao nosso desenvolvimento como nação.

Um estudo feito pela economista Laísa Rachter do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) aponta que nos últimos 50 anos houve um grande avanço da presença de mulheres em todas as áreas de atuação do mercado de trabalho, o que significa uma redução nas barreiras de acesso, mas ao avaliar a remuneração, as diferenças continuam preocupantes. Em profissões consideradas do topo, mulheres ainda recebem 33% menos que os homens. É como receber R$ 3.350 quando os homens ganham R$ 5.000.

Mas o nosso objetivo hoje é falar sobre a educação, que deveria ser o caminho para o acesso a mais renda e mais qualidade de vida.

 

Crédito: Unsplash/Green Chameleon

Temos avançado em todas as áreas por exemplo no caso da tecnologia onde a participação feminina cresceu 60% nos últimos anos. Temos também exemplos de mulheres pioneiras como Marie Curie, a primeira física vencedora de um Nobel, Valentina Tereshkova a primeira mulher no espaço, Mary Edwards Walker que foi cirurgiã da Guerra Civil nos EUA e primeira mulher a receber uma Medalha de Honra, entre tantas outras que você pode conferir aqui.

 

De acordo com o levantamento “A jornada do pesquisador através de lentes de gênero” embora a participação das mulheres na pesquisa esteja aumentando de forma geral, a desigualdade permanece entre áreas temáticas e em termos de resultados de publicações, citações, bolsas concedidas e colaborações. Em todos os países, a porcentagem de mulheres que publicam internacionalmente é menor do que a de homens.

 

 

Existem pessoas extraordinárias que têm muito mérito pessoal por ter alçado voos mais altos na história do pioneirismo, mas quantas dessas pessoas, e entre elas mulheres, não realizaram o que poderiam por simples falta de acesso à educação?

Podemos sim celebrar as mulheres que nos orgulham tanto ao chegarem nos mais altos cargos ou por sua contribuição tão importante na ciência e não podemos esquecer que as mulheres são maioria em todas as fases da educação básica, do infantil ao ensino médio. Ou seja todo mundo que hoje tem uma carreira de sucesso, teve em sua trajetória a figura de uma professora.

Crédito: Unsplash/Taylor Wilcox

 

Mas alguns dados preocupam:

A gravidez na adolescência é responsável por 18% da evasão escolar entre meninas segundo um estudo do MEC. Já outro levantamento, da Fundação Abrinq, mostra que quase 30% das mães adolescentes, com até 19 anos, não concluíram o ensino fundamental.

Uma em cada quatro meninas têm a vida escolar afetada por conta da pobreza menstrual (Pesquisa Always/Toluna). Vimos avanços esse ano, como no caso dos governos do Ceará e São Paulo, com projetos de lei que preveem o fornecimento de itens de higiene para meninas e jovens em situação de vulnerabilidade. Uma forma de evitar o prejuízo à educação.

Se a menstruação não deveria afetar em nada a rotina escolar de uma menina, sendo apenas um processo natural do corpo, a gravidez que de preferência deveria ocorrer em um momento de estabilidade da vida da mulher, não deveria significar a renúncia definitiva aos estudos e carreira, mesmo quando ocorre de forma precoce.

E temos ainda a conta da pandemia.  A pesquisa “Vidas Interrompidas”, da ONG Plan International revelou que 19% das meninas em todo o mundo acreditam que a Covid-19 as forçará a suspender temporariamente os estudos, enquanto 7% temem ter que abandonar a escola em definitivo. A Unesco estima que a pandemia da Covid-19 coloca mais de 11 milhões de meninas em uma situação de risco de não retornarem à escola.

Crédito: Unsplash/Muneer Ahmed

A educação é fundamental para evitar práticas como a do casamento infantil, sendo que o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking onde isso é mais frequente.

Em sua passagem pelo Brasil em 2018, Malala falou da importância da educação para meninas não apenas para beneficia-las individualmente, mas porque contribui para o crescimento da economia, aprimora a democracia e traz estabilidade ao país.

A Malala que foi baleada porque queria estudar…

E essa semana nos deparamos com a preocupante notícia do retorno do Talibã ao poder no Afeganistão. Segundo o Afghan Women’s Network isso pode representar um retrocesso de 200 anos.

Promessas de inclusão e de respeito aos direitos humanos não são suficientes. Isso precisa ser visto na prática. Todos temos nossas origens, nossa cultura, nossa fé e nada disso deveria impedir a nossa liberdade e crescimento pessoal.

Não podemos ver mulheres sendo substituídas em seus empregos por homens, não podemos ver meninas deixando a escola. Não queremos retrocesso após 20 anos de uma difícil e lenta evolução.

Nos últimos 20 anos, milhares de meninas e jovens afegãs tiveram acesso à educação, sendo 39% dos 9,5 milhões de estudantes do país no ano passado. Estima-se que as mulheres são 22% da força de trabalho no país. Isso não pode ser perdido.

Reduzir a desigualdade geral e de gênero passa por acesso e qualidade da educação. O empoderamento não deve acontecer apenas de forma individual, mas coletiva.

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Crédito: Unsplash/Leonardo Toshiro Okubo