Queremos igualdade salarial e segurança

É o justo.

Sobre ganhar flores no Dia Internacional da Mulher por nossas qualidades como delicadeza, feminibilidade, espírito maternal, empatia: é verdade, algumas de nós temos essas características mesmo. Mas obrigada, preferimos que o agradecimento seja na forma de igualdade. Que, aliás, nem agradecimento é. É o básico. É o justo.

Ao contrário de outras datas de origem e propósito comercial, o Dia Internacional da Mulher nasceu para lembrar a luta de mulheres do início do século XX por melhores condições de trabalho, com jornadas em fábricas que chegavam a 16 horas, seis dias por semana. Na mesma época, nos Estados Unidos, mulheres marchavam para conquistar o direito de votar. A data foi oficializada pela ONU em 1975.

De lá para cá, bastante coisa mudou, as mulheres conquistaram seu espaço, mas a igualdade ainda não é uma realidade. Segundo um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mesmo com uma queda na desigualdade salarial entre 2012 e 2018, as trabalhadoras ganham, em média, 20,5% menos que os homens no Brasil. A pesquisa também aponta que a diferença de horas trabalhadas por homens e mulheres está diminuindo…mas isso porque os homens diminuíram suas jornadas! Se em 2012 a diferença de horas trabalhadas por homens e mulheres chegava a 6 horas, em 2018 caiu para cerca de 4 horas e 48 minutos.

Isso não tem absolutamente nada a ver com a dedicação de cada um ao trabalho, e está muito mais ligado ao fato das mulheres se dedicarem não só aos seus empregos, mas também às tarefas domésticas, criação dos filhos. A divisão dos trabalhos “fora do trabalho” ainda é bastante desigual.

Chamamos de divisão sexual do trabalho a construção social que no passado delegava funções ligadas à política e ao dinheiro ao homem, e tarefas domésticas à mulher. Isso está mudando a passos lentos e ainda é comum que as mulheres façam a “dupla jornada”, ou seja, além de trabalharem fora ainda fazem a maior parte do serviço doméstico em casa. Um estudo da  Organização Internacional do Trabalho (OIT) prevê que a desigualdade de gênero no trabalho doméstico só deve acabar daqui a 209 anos! O relatório ainda aponta que enquanto as mulheres de países em desenvolvimento gastam em média 4 horas e 30 minutos com o trabalho doméstico por dia, os homens gastam 1 hora e 20 minutos com esse tipo de tarefa.

Além dessa barreira no trabalho e serviço doméstico, temos ainda a questão da segurança. Quer fazer um teste? Digite a palavra “mulher” na pesquisa do Google e clique na aba “notícias”. Não faltam resultados sobre casos de violência e feminicídios. Para entender o privilégio masculino basta lembrar o caso divulgado há dois anos em que três estudantes da Flórida criaram um canudo que consegue identificar a presença de drogas em bebidas, uma forma de impedir que mulheres sejam estupradas. O caso, ao ser divulgado nas mídias sociais, teve vários comentários de homens brincando com a situação ao dizer coisas como “quero um canudo desse para saber qual bebida devo tomar para ficar louco”. Ou seja, enquanto as mulheres se preocupam em manter sua integridade física, alguns homens estão mais preocupados em se divertir.

Por essas questões, o Dia Internacional da Mulher é um momento de pensar nas lutas do passado que nos permitiram avançar e o tanto de coisas que ainda precisamos conquistar.  E melhor do que ganhar flores é saber que não estamos sozinhas nessa jornada. Vamos juntas?