Mulheres que Fazem Arte: Pampa

O artesanato supera sua mera funcionalidade. No caso da lã, mais do que o propósito térmico ou de conforto, o ato de fiar e tecer é uma forma de transferir sentimento ao material

De forma geral, o artesanato supera sua mera funcionalidade para criar um objeto que simboliza todo o afeto envolvido no seu fazer.  No caso da lã, mais do que o propósito térmico ou de conforto, especialmente em um clima frio, o ato de fiar e tecer é uma forma de transferir sentimento ao material. “Não tem como não se envolver ao colocar o fio na roca, cada metro de fio que vai sendo tecido ou crochetado passou pelas nossas mãos e estamos colocando o coração nas mãos, essa é a grande razão de todas as artesanias”, conta Heloiza Zuffo, artesã, agricultora, engenheira e membro do Araucária Arte em Lã (@araucaria_arte_em_la).

O grupo de São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul, conta com cinco artesãs fixas, mas toda a região se envolve no trabalho quando é necessário, chegando a triplicar o número de mulheres que somam sempre que chega um projeto maior, por exemplo uma festa ou feira regional.

O trabalho não só resgata uma arte tradicional, como fortalece a produção regional. “Reforçamos a importância da ovinocultura e de manter essa manualidade que traz recursos e permite a permanência nas propriedades que com isso são mais bem cuidadas e felizes. A mulher estar no campo, com poder econômico, empodera a mulher, a família e o próprio campo. O trabalho de manutenção das mulheres no campo é a tônica do projeto e uma forma do nosso bioma prosperar”, diz Helô.

Na Serra Gaúcha e nos Pampas as famílias de pequenas propriedades sempre fizeram o uso da lã, que envolve muitos processos como cardar, fiar, lavar, feltrar e tecer, e as cores são obtidas a partir de ervas e raízes, aproveitando a flora local, ou de tinturas não tóxicas. A possibilidade de criações é quase infinita, resultando em mantas, echarpes, xales, entre tantos outros itens de uso e decoração que trazem conforto ao corpo e ao ambiente. Esse trabalho artesanal é um retorno a artes esquecidas ou mesmo recentes, caso da feltragem que é realizada pelo grupo desde 2008, e que envolvem a preservação da biodiversidade.

Em tempos em que o uso de materiais sintéticos é tão popular, as fibras naturais são cada vez mais valorizadas. “Atendemos grupos de moda e coletivos de artes em ações sustentáveis já que a lã é biodegradável, não produz poluição e o processo não prejudica as ovelhas”, explica Helô.

Em tempos que a urgência ecológica, climática e social não pode ser deixada de lado, é fundamental reconhecer esse trabalho.