Mulheres que Fazem Arte: Mata Atlântica

A união feminina está diretamente ligada à formação do Quilombo Ivaporunduva, um dos mais antigos que existe

Localizado a 50 quilômetros da cidade de Eldorado, em São Paulo, o Quilombo Ivaporunduva (@quilomboivaporunduva), às margens do Rio Ribeira de Iguape, é uma das comunidades quilombolas mais antigas que existem, com 125 famílias. Cerca de 80% da sua área é coberta pela Mata Atlântica e sua riqueza de espécies vegetais e animais.

Além da produção de subsistência com arroz, feijão e milho, e de produtos cultivados para a geração de renda, como o manejo sustentável de palmito, foi a banana que serviu como um divisor de águas para as mulheres da comunidade. Além de ser uma cultura tradicional da região e vendida com certificação de produto orgânico, foi a partir de um curso realizado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) sobre o aproveitamento do caule da bananeira, que as mulheres tornaram-se protagonistas para a geração de renda e criação artística da comunidade. O artesanato da palha de bananeira resulta em bolsas, colares, brincos, cestas, tapetes, jogos americanos, cintos de macramê, entre outros itens.

Cristiane Marinho Rodrigues da Silva, nascida e criada no quilombo, é formada em pedagogia e atua hoje como educadora social, mas na comunidade também trabalha como artesã e agricultora. Para ela, o artesanato com a palha de bananeira mais do que gerar renda, melhorou a autoestima das mulheres. “Antes os homens faziam o artesanato principalmente com o cipó. As mulheres ficavam na roça e não tinham outra renda. Hoje, com quatro tipos de palha extraídas da bananeira, o artesanato é 90% feito por mulheres, o que além de gerar renda é uma técnica que permite a criação artística”, afirma.

A união feminina está diretamente ligada a fundação do quilombo. “Tudo começou com um coletivo de mulheres que entenderam que para preservar a nossa cultura precisávamos lutar e ter reconhecimento como comunidade. Sempre nos reunimos para cobrar políticas públicas. Historicamente, as mulheres foram o carro-chefe de nossas lutas por território, educação e saúde. Conseguimos escola, posto de saúde e junto com a Pastoral da Criança reduzimos o índice de mortalidade infantil. Temos um grande encontro em março, no mês da mulher, para debater assuntos comunitários. Estimulamos nossos jovens a ir para a faculdade e voltar para a comunidade com novos conhecimentos”, conta Cris.

E para o futuro? A preservação da cultura é o desejo da comunidade. “Queremos ver o respeito à nossa cultura e viver bem, com saúde e educação cada vez melhores. O que temos foi fruto de muitos anos de lutas e não podemos deixar que prejudiquem a nossa tradição. Vamos manter, lutar e resistir”, conclui Cris.