Adoção e apadrinhamento afetivo – formas de amar

Para viver a maternidade ou paternidade basta a vontade de amar e contribuir para a formação de outro ser humano.

Toda criança e adolescente merece um lar onde poderá ser amado e se desenvolver. Da mesma forma, muitas pessoas querem viver a experiência de ser pai ou mãe, e por diversos motivos às vezes isso não ocorre de forma biológica. Mas isso não é essencial. Para viver a maternidade ou paternidade basta a vontade de amar e contribuir para a formação de outro ser humano.

O dia 25 de maio foi definido como a data para ressaltar a importância da adoção aqui no Brasil, porém, a realidade é um pouco mais complicada. Segundo dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, que são atualizados diariamente, cerca de 34 mil crianças estão acolhidas em equipamentos do país, das quais pouco mais de 5 mil estão disponíveis para adoção, quando os genitores biológicos perderam definitivamente o poder familiar, e 2.700 já passam pelo processo de serem adotadas. Do outro lado, temos mais de 36 mil pretendentes que querem ser pais.

E quem entra na fila para adotar se queixa da demora do processo. Uma gestação que pode durar muito mais do que nove meses, com muita expectativa e ansiedade. Mas essa lentidão ocorre em grande parte por causa da dificuldade de unir perfis, quando a maioria dos futuros pais preferem adotar apenas uma criança pequena, com menos de três anos, e a maioria das crianças que estão no  sistema de acolhimento possuem irmãos e são pré-adolescentes ou adolescentes.

Pensando nessas crianças com mais de dez anos de idade, de alguns anos para cá surgiu o programa de apadrinhamento afetivo. Assim, crianças e adolescentes sem possibilidade de retorno familiar e com poucas chances de adoção, poderiam desenvolver vínculos de afeto estáveis com outras pessoas além das que fazem parte da instituição de acolhimento. “A vida destas crianças e adolescentes carece justamente destas referências estáveis de afeto. Os vínculos familiares foram rompidos, os cuidadores das instituições se vão, os acolhidos entram e saem, por vezes são os próprios que mudam de instituição”, conta Carla Eberlein, juíza da Vara da Infância e Juventude da Lapa, em São Paulo. “Para ser padrinho ou madrinha de uma criança ou adolescente é preciso estar disponível para oferecer e dar afeto, bater papo, trocar experiências de vida, e principalmente acreditar que é possível ser uma referência positiva na trajetória de vidas carregadas de decepções. Não é pouca coisa!”, completa Carla.

Apesar de ocorrerem casos em que o vínculo estabelecido entre apadrinhado e padrinho ou madrinha se transformar em um vínculo maternal ou paternal, na relação de apadrinhamento os padrinhos não são os responsáveis legais pela criança ou adolescente. Para ser padrinho ou madrinha é preciso ter mais de 21 anos, participar de um curso oferecido nas Varas de Infância e Juventude com psicólogos, que também estarão presentes nas primeiras dinâmicas de aproximação com os apadrinhados, e ter a disponibilidade de estar presente na vida de quem já passou por tantos rompimentos e dor. No caso da adoção, ela é irrevogável justamente para evitar mais um trauma para as crianças e jovens sem família.

Com a demora do sistema de adoção no Brasil e a vontade de ser mãe, a publicitária Maysa Oliveira optou por outro caminho, que é o da adoção internacional. “Eu sempre tive vontade de adotar, desde que eu era bem jovem. Os anos foram passando e eu e meu marido tivemos problemas para engravidar. Quando a gente começou o processo de fertilização, a gente percebeu que aquilo não tinha nada a ver com a gente e já tínhamos conversado sobre adoção e ele falou que também adoraria ser pai adotivo. Teve uma vez que a gente foi no médico da fertilização que estava com a sua filhinha adotiva. Ao conhecer ela a gente olhou um para a cara do outro e pensou ‘o que estamos esperando? Todos os sinais possíveis do universo estão aqui’. Esse era o nosso caminho e decidimos dar entrada nos papéis. A gente continua na fila do Brasil, mas como demora muito, fizemos a adoção internacional e nosso filho, o Tom, é do Malawi, na África. Mas para as mamães que querem adotar, eu digo tenham muita fé, resiliência e perseverança porque é um caminho muito difícil e burocrático no Brasil, mas se é isso que vocês querem não desistam de forma alguma porque vale cada minuto e será a melhor coisa da sua vida”, afirma Maysa.

Maysa e Tom

E a experiência da adoção, seja nacional ou internacional, é exatamente igual ao da maternidade biológica, com muito amor e troca. “A maternidade me ensinou o que é amor infinito, que não cabe dentro do peito, uma alegria e uma força que a gente não imagina que tem por um serzinho tão pequeno que amamos tão profundamente. Esse amor infinito e essa força de querer fazer tudo por ele e ser uma pessoa melhor só conheci com a maternidade. O primeiro ‘mamãe eu te amo’ é uma explosão de emoção e amor”, conta Maysa.

Adotar é se permitir amar e ser amado, ganhar um novo sentido em sua vida e transformar a realidade de alguém que precisa.